Ao navegar nas correntes da bioeconomia e do desenvolvimento sustentável, o Brasil se apresenta como pioneiro de uma indústria inovadora - a algicultura, o cultivo de macroalgas. Esta prática sustentável, que se fundamenta apenas no uso de água marinha e luz solar para o crescimento das algas, é crucial para a cadeia alimentar marinha e para o ciclo do carbono. O uso de algas marinhas em alimentos, medicamentos e diversas outras aplicações tem suas raízes na antiguidade, e está sendo cada vez mais valorizado como substituto ecológico de produtos de origem animal. Dentre as várias espécies de algas, a macroalga Kappaphycus alvarezii desponta como um foco de cultivo para mais de 20 países, sendo uma opção promissora para o impulsionamento da bioeconomia brasileira.
A Kappaphycus alvarezii, uma alga vermelha tropical, é notável por seu crescimento rápido e excepcional, podendo dobrar sua biomassa em um prazo de apenas 15 dias. O interesse global na K. alvarezii se deve principalmente à sua utilidade como matéria-prima para a produção de ficocolóides, particularmente as carragenas, amplamente usadas como estabilizantes e espessantes na indústria alimentícia. Isso faz com que o mercado de produtos derivados de algas marinhas movimente milhões de dólares anualmente, tendo consumidores significativos em países da Ásia, Europa e Américas, incluindo o Brasil. No Brasil, somos importadores anuais de milhões de dólares em carragenas para atender ao mercado interno.
Rica em nutrientes como carboidratos, proteínas, cálcio, ferro, magnésio, fósforo, sódio e potássio, a K. alvarezii também ajuda na prevenção de doenças crônicas como diabetes, obesidade e doenças cardíacas. Porém, apesar de ter sido introduzida no Brasil há cerca de 30 anos para atender à crescente demanda por carragenas, as aplicações da K. alvarezii vão além da indústria alimentícia. Elas possuem uma diversidade de aplicações industriais, que incluem alimentação direta em humanos e animais, uso em cosméticos e medicamentos, usos agrícolas e até mesmo na produção de biocombustíveis, como o etanol de 3ª geração. Neste contexto, a aplicação de extratos líquidos de algas marinhas como bioestimulantes orgânicos na agricultura tem ganhado destaque, devido às suas excelentes propriedades relacionadas ao crescimento e resistência das plantas.
O cultivo de macroalgas pode ser feito utilizando estruturas fixas ou flutuantes. Esta prática apresenta um impacto ambiental inferior ao da pecuária ou da agricultura tradicional, pois as algas utilizam apenas a água do mar e não requerem irrigação, pesticidas ou fertilizantes. Além dos benefícios ambientais, O cultivo da K. alvarezii tem um potencial enorme para beneficiar a bioeconomia brasileira. Primeiro, a produção interna desta macroalga diminuiria a necessidade de importações de carragena, economizando recursos valiosos que poderiam ser investidos em outros setores da economia. Além disso, o cultivo de algas pode gerar empregos, especialmente em comunidades costeiras que possuem poucas alternativas de subsistência. O cultivo comercial da K. alvarezii também pode ser uma forma de diversificar a economia brasileira. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a bioeconomia inclui "todas as atividades econômicas relacionadas à invenção, desenvolvimento, produção e uso de produtos e processos biológicos". Portanto, ao expandir o cultivo de algas, o Brasil estará contribuindo para uma economia mais verde e sustentável.
No Brasil, especialmente nos estados do Rio de Janeiro e Santa Catarina, a prática de cultivo da Kappaphycus tem atraído um interesse crescente. Conforme dados de 2022, existem cerca de sete produtores de algas, todos legalizados, entre a Baía da Ilha Grande e Paraty, no Rio de Janeiro, com uma produção anual de pelo menos 4.000 toneladas. Em contrapartida, Santa Catarina tem presenciado uma revolução verde e sustentável na esfera da aquicultura. Com a autorização do IBAMA em 2020, que permitiu a atividade desde o extremo norte até o sul do estado, a K. alvarezii começou a ser cultivada comercialmente, refletindo a intenção do governo de explorar o potencial marítimo do estado. Estatísticas também de 2022 mostram que atualmente existem quatro produtores em Santa Catarina, que cultivam a alga em uma área de 3,20 hectares, produzindo um total de 102,3 toneladas de alga fresca.
É crucial salientar que o cultivo de algas marinhas deve ser conduzido de forma responsável, necessitando de estudos prévios e monitoramento ambiental contínuo para evitar impactos negativos, como a bioinvasão. A prática de cultivo integrado de diferentes espécies de algas vem se tornando uma tendência, pois cria sinergia entre as espécies e otimiza o uso do ambiente marinho. Apesar do enorme potencial da K. alvarezii, ainda existem desafios a serem superados. As condições ambientais variáveis, por exemplo, podem afetar o crescimento da alga, e a inexperiência dos produtores pode resultar em práticas de cultivo ineficientes. Além disso, a indústria brasileira de algas está apenas começando, necessitando de mais pesquisa e desenvolvimento. Entretanto, há muitas oportunidades para a expansão do cultivo de K. alvarezii no Brasil. O extenso litoral do país, aliado a condições ambientais favoráveis, o torna um local ideal para a maricultura. Além disso, a crescente atenção à bioeconomia e o compromisso com a sustentabilidade oferecem uma oportunidade única para o Brasil se posicionar como líder no cultivo de macroalgas.
A demanda por algas no Brasil está em ascensão, principalmente impulsionada pela indústria de biofertilizantes. Atualmente, a Kappaphycus alvarezii é a única alga produzida comercialmente em larga escala, fortalecendo a indústria de biofertilizantes e carragenas, bem como incentivando a pesquisa e desenvolvimento de novos produtos derivados de algas marinhas, como os bioplásticos! Além disso, o cultivo de algas promove a biodiversidade e a saúde dos ecossistemas marinhos. Ao absorver o dióxido de carbono da atmosfera, as algas desempenham um papel fundamental no combate às mudanças climáticas. Elas também são reconhecidas por melhorar a qualidade da água ao absorverem nutrientes em excesso que, de outra forma, poderiam contribuir para a eutrofização dos ecossistemas marinhos.
Para fomentar ainda mais a maricultura de algas marinhas no Brasil, precisamos considerar diversos fatores, como apoio governamental, existência de um mercado seguro e confiável, disponibilidade de recursos econômicos, desenho e gestão eficientes das fazendas marinhas, capacitação dos produtores e investimento em pesquisas. Os maricultores necessitam de treinamento contínuo para adquirir habilidades e conhecimento técnico sobre o cultivo de algas. Isso inclui compreender o ciclo de vida das algas, a seleção de locais de cultivo, a preparação de mudas, a manutenção dos cultivos, entre outros aspectos. Além disso, investimentos em pesquisa para aprimorar técnicas de cultivo e desenvolver novas aplicações para as algas são fundamentais. Em relação ao apoio governamental, é necessário estabelecer políticas públicas orientadas para a maricultura, que incluam incentivos fiscais, financiamento e segurança jurídica. Da mesma forma, a existência de um mercado seguro e confiável é fundamental para o desenvolvimento da indústria de algas. O mercado de produtos derivados de algas está em expansão, e os produtores precisam ter a confiança de que terão demanda para seus produtos. Também é imprescindível garantir a sustentabilidade econômica do programa de maricultura de algas, o que requer investimentos iniciais para o estabelecimento dos cultivos, bem como recursos para a manutenção e expansão do programa. Além disso, é vital uma gestão competente do programa de maricultura. Isso inclui a coordenação efetiva entre os diferentes atores envolvidos, como governos, produtores, pesquisadores e indústria, além de uma gestão eficiente dos recursos e o monitoramento constante para assegurar sua eficácia e sustentabilidade.
A Grisea, líder no desenvolvimento de bioplásticos de algas no Brasil, está comprometida em promover o cultivo responsável de algas marinhas por seus parceiros e fornecedores, explorando todo o potencial dessas espécies para impulsionar a indústria brasileira. Estamos determinados em desenvolver bioplásticos inovadores a partir de algas marinhas cultiváveis como a Kappaphycus alvarezii, visando não apenas a prosperidade econômica, mas também a preservação ambiental e a promoção do desenvolvimento social. Junte-se a nós nessa jornada rumo a um futuro mais sustentável, onde as algas marinhas desempenham um papel fundamental na bioeconomia brasileira. Entre em contato conosco e saiba mais sobre as oportunidades de investimento e parcerias nesse setor em constante crescimento.
Conteúdo e redação por:
Felipe Teixeira
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