top of page
Foto do escritorGrisea Biotecnologia

Muitos falam sobre sustentabilidade, mas poucas empresas sabem o que isso significa quando o assunto é bioplástico.

Imagine a seguinte situação: uma empresa de cosméticos procura uma solução sustentável para embalar seus produtos líquidos. A expectativa? Um bioplástico pronto, barato, validado, de fácil implementação e com o mesmo desempenho dos plásticos convencionais. No entanto, a realidade é outra.



grisea biotecnologia


A startup que eles procuraram ainda está em fase de validação, focada em outro mercado e sem capacidade para produção em larga escala. Essa história reflete um fenômeno comum: o mercado espera que os biopolímeros já sejam soluções totalmente maduras, quando, na verdade, ainda estamos ajustando e desenvolvendo essas tecnologias. Esse descompasso de expectativas é algo que vemos frequentemente na indústria de bioplásticos.


Um dos maiores desafios que enfrentamos hoje é educar o mercado sobre o que os biopolímeros, como os derivados de amido ou algas marinhas, podem — e não podem — fazer. Polímeros tradicionais como PE, PP e PET já estão consolidados há décadas, e o mercado entende perfeitamente como aplicá-los. Todos conhecem as famosas garrafas PET, por exemplo. Já os biopolímeros, em sua maioria, ainda estão em um estágio de aprendizado e experimentação.


Um exemplo é a carragena, um biopolímero renovável e biodegradável extraído de algas marinhas, que é excelente para embalagens, mas apresenta limitações em condições que exigem resistência à umidade ou calor. O PLA, muitas vezes considerado "biodegradável", também enfrenta desafios — ele se decompõe apenas em instalações de compostagem industrial, o que gera confusão, pois muitos acreditam que ele se degrada em qualquer ambiente.


Essa diferença de entendimento entre plásticos convencionais e biopolímeros representa um grande obstáculo. Diversas empresas tentam migrar para soluções sustentáveis sem ajustar suas expectativas. Elas imaginam que podem simplesmente substituir o plástico tradicional por um biopolímero sem necessidade de mudanças no processo produtivo. Porém, essa transição exige adaptações, especialmente em termos de fabricação, armazenamento e resistência mecânica.


Quem trabalha com essas tecnologias emergentes precisa encontrar o equilíbrio entre a urgência por resultados e as limitações naturais dessas inovações. E, nesse cenário, a comunicação se torna um ativo estratégico.


Desde o início, é essencial explicar de forma clara as vantagens e as limitações de cada biopolímero, para que o cliente ajuste suas expectativas e tome decisões mais informadas. O mercado precisa entender que, além de oferecer uma solução sustentável, é necessário um nível de conhecimento para que essas inovações sejam implementadas com sucesso.


Então, surge a questão: vale a pena investir tempo e recursos para educar o mercado? Sem dúvida. Quando as expectativas estão alinhadas, os biopolímeros podem ser aplicados de maneira mais eficiente e sustentável. Ignorar essa necessidade pode gerar frustrações e minar a confiança nessas inovações, comprometendo sua adoção em larga escala.


Se realmente queremos promover uma transformação significativa no uso dos biopolímeros, precisamos ir além do discurso e fomentar um mercado mais consciente. Isso significa construir um ecossistema em que as empresas compreendam que soluções sustentáveis não são substituições simples dos plásticos convencionais, mas inovações que exigem ajustes, testes e uma visão de longo prazo. O sucesso dessas tecnologias depende dessa adaptação mútua entre empresas e mercado. Só assim as soluções sustentáveis deixarão de ser apenas uma tendência para se tornarem parte essencial do nosso futuro.


Para que essa transformação seja possível, é fundamental que diferentes atores do ecossistema assumam papéis complementares. As empresas devem se comprometer com uma abordagem de inovação aberta, colaborando com startups e institutos de pesquisa para acelerar o desenvolvimento e a aplicação de biopolímeros. Isso envolve não apenas abrir as portas para a experimentação, mas também compartilhar dados e feedback para refinar soluções. Já os investidores precisam entender o potencial das deep techs — startups focadas em inovações tecnológicas de base científica — como vetores de mudanças estruturais no mercado. Um investimento mais robusto nessas empresas possibilita a criação de tecnologias mais sofisticadas, que podem competir com os plásticos convencionais em desempenho e custo.


Governos e entidades reguladoras também têm um papel central, criando incentivos fiscais e políticas públicas que priorizem a pesquisa e o desenvolvimento de biopolímeros, além de fomentar parcerias entre academia e indústria. Por fim, consumidores precisam ser conscientizados sobre as reais capacidades e limitações dessas inovações, para que possam fazer escolhas mais informadas e apoiar essa transição. Apenas com a sinergia entre esses diferentes atores poderemos impulsionar uma transformação sustentável e escalar o uso de biopolímeros de forma eficiente e responsável.


Conteúdo e redação por: Felipe Teixeira

Comments


bottom of page